domingo, 18 de setembro de 2011

O COMBATE FORD VERSUS FERRARI (13)

por Mestre Joca http://mestrejoca.blogspot.com

O desempenho decepcionante do Ford J nos testes de abril e os dois acidentes que vitimaram Walt Hansgen e o canadense Bob Mclean, este último ao volante de um GT-40 em Sebring, trouxeram a certeza para a Ford que todos os seus esforços deveriam ser concentrados em vencer em Le Mans, deixando de lado as outras corridas do Mundial de Construtores. Assim, sob a pressão de John Cowley - big boss do projeto esportivo da Ford - tanto a Shelby America Inc. como a Alan Mann Racing e Holman & Moody trabalham exclusivamente na preparação e desenvolvimento dos Mark IIA de 7 litros com vistas a vencer a corrida francesa.

Com a Ford adotando a mesma antiga estratégia da sua rival Ferrari, deixando somente os GT-40 privados defender a marca em provas de importância secundária, a fábrica de Maranello não teve dificuldades de vencer os 1.000 Km de Monza onde a Ferrari 330P3 de John Surtees/Mike Parkes chegou á frente dos GT-40 privados da Essex Wire Corp. - pilotado por Masten gregory/John Whitmore - e o da dupla Herbert Müller/Willy Mairesse (Scuderia Filipinetti).

Na Targa Florio, e na total ausência dos carros oficiais da Ford (exceção feita ao GT-40 da Ford France, inscrito como não-oficial para os pilotos Guy Ligier/Henry Greder), as Ferrari 330P3 oficiais são derrotadas surpreendentemente pelos novos Porsche 906S, com o da dupla Willy Mairesse/Herbert Müller chegando em primeiro lugar.

O segundo embate do ano entre Ford e Ferrari se daria nos 1000 Km de Spa-Francorchamps, prova originalmente realizada em 500 Km mas que naquele ano teve sua extensão duplicada no antigo circuito de 14 Km, o mais rápida da Europa naquela época. E isso talvez explicasse a presença da fábrica americana numa prova secundária do calendário mundial. Tanto Ferrari como Ford inscrevem-se com somente um carro oficial, devido à coincidência de datas com o tradicional GP de Mônaco.

Pelo lado da Ford, vem um MkIIA de 7 litros da Alan Mann Racing para a dupla John Withmore/Frank Gardner, uma vez que Grahan Hill e Jackie Stewart estavam correndo em Mônaco. Para confrontá-los, a Ferrari inscreve uma 330P3 para Ludovico Scarfiotti/Mike Parkes, que substituem a John Surtees e Lorenzo bandini, também presentes no circuito monegasco. É também a primeira vez, que ambos contendores se enfrentam em igual número de carros, um para um. E, ainda por trás, havia a guerra silenciosa das fábricas de pneus. A Ford calçada de Good Year; a Ferrari de Dunlop.

Nos treinos, a Ferrari se impõe frente ao monstro de 7 litros americano, com a 330P3 de Mike Parkes/Ludovico Scarfiotti rodando três segundos (3m47"4) à frente do Ford MkIIA de Whitmore/Gardner (3m50s7) e do GT-40 privado de Peter Revson/Skip Scott da Essex Wire Corp. E na corrida não é diferente, líderes desde a largada, Mike Parkes/Ludovico Scarfiotti - correndo de Firestone, pneus mudados no último momento ao invés dos habituais Dunlop - já na altura da 30a. volta livravam uma volta de vantagem sobre todos os carros, sendo seguidos por toda corrida pelo Ford MkIIA de John Withmore/Frank Gardner e do GT-40 de Peter Revson/Skip Scott. No cara-a-cara, há um empate: a Ford vencera em Sebring e a Ferrari em Spa-Francorchamps...!

Duas semanas antes das 24 Horas de Le Mans, houve os Mil Km de Nürburgring. Fiel à sua política de se concentrar na prova francesa, a Ford não comparece oficialmente ao circuito alemão. Somente os Ford GT-40 privados estão inscritos frente à duas 330P3 oficiais, uma novíssima tipo berlineta e outra Barquetta para uso da dupla John Surtees/Mike Parkes. A surpesa nesta prova era a presença do Chaparral 2D de câmbio automático, um carro que apenas se apresentara em Daytona e Sebring e nem ficara pronto para Spa-Francorchamps e que marcara o segundo tempo, atrás somente da 330P3 de Surtees/Parkes.

Sem maiores rivais além da incógnita chamada Chaparral, a Ferrari 330P3 liderou com facilidade desde a primeira volta, com Surtees estabelecendo recordes em cima de recordes. No meio da prova, veio a surpresa: a Ferrari abandonava por quebra da suspensão traseira, deixando a vitória inesperada para o Chaparral da dupla Phil Hill/Joachim Bonnier.

Le Mans, o rolo compressor americano...

Era chegada a hora da verdade. A Ford comparece com oito modelos MkIIA de 7 litros, limite máximo imposto pelo regulamento. Das cinco Ferrari 330P3 esperadas, somente são inscritas oficialmente três: uma spyder do Team NART e duas berlinetas pelo time oficial. Mas no cômputo geral, a Ford está presente com 14 carros, mesmo número da Ferrari entre oficiais e privados.

Os pilotos da Ferrari são Ludovico Scarfiotti/Mike Parkes e Lorenzo Bandini/Jean Guichet. John Surtees, o melhor piloto da esquadra Ferrari, entrara em rota de colisão com Eugênio Dragoni, gerente de competições da Ferrari, devido ao notório favorecimento deste aos pilotos italianos e que levaria o piloto inglês a se desligar da equipe uma semana após Le Mans.

Já a Ford compareceu em massa: além de todo o staff desportivo e técnico, veio o pessoal da publicidade e relações públicas, vários convidados da imprensa americana e revendedores dos EUA e Europa. Henry Ford II estava presnete, designado para dar a bandeirada de largada dessa historica 24 Horas de Le Mans. E ao volante dos oito modelos MkIIA estava a fina flor dos pilotos americanos de provas de longa duração, mesclados com australianos, ingleses, e neozelandeses. Nos três carros da Shelby American alinhavam Dan Gurney/Jerry Grant, Ken Miles/Dennis Hulme e Bruce McLaren/Chris Amon. Pela Holman 7 Moody correriam as duplas Ronnie Bucknum/Dick Hutcherson (especialista em provas da Nascar), Paul Hawkins/Mark Donohue e Mario Andretti/Lucien Bianchi.

Uma amostra do nível da desorganização dos franceses se deu com a equipe equipe inglesa Alan Mann Racing, onde estavam Sir John Withmore/Frank Gardner e originalmente a dupla Grahan Hill/Jackie Stewart. Com o impedimento de Stewart em participar da corrida, este foi substituido pelo Dr. Dick Thompson. Ainda nos treinos de sexta, Dick Thompson envolvera-se num acidente com o Ford GT-40 particular do americano Richard Holqvist, cuja condução muito lenta já provocara várias reclamações dos outros pilotos.

Apesar de não ter nenhuma culpa no incidente, os comissário franceses resolveram punir Dick Thompson e o Ford MkIIA, eliminando-os da corrida. Foi o suficiente para que o gerente de relações públicas da Ford botar o bloco na rua: se desclassificassem o MkIIA da Alan Mann Racing, ele retiraria todos os carros da Ford das 24 Horas de Le Mans ! Acuados e com cara de otários, os comissários vieram com uma solução no mínimo risível: o carro poderia continuar, mas o piloto não.

A saída foi Alan Mann convidar o australiano Brian Muir para substituir Dr. Dick Thompson. E um avião particular foi enviado à Austrália para trazer o piloto a tempo. Mas o festival de asneiras ainda não havia acabado. Como não conhecia o carro, nem havia treinado, a pista foi liberada para algumas voltas de Brian Muir ao volante do MkIIA e a fim de que fosse considerada sua classsificação.

Depois de todas as confusões, os Ford MkIIA demonstraram nos treinos que eram sérios candidatos à vitória. Dan Gurney marcou o melhor tempo a inacreditáveis 3m.30s6, seguido de Ken Miles/Denny Hulme, Sir John Whitmore/Frank Gardner e Bruce McLaren/Chris Amon, todos ao volante dos Ford MkIIA oficiais. A melhor Ferrari vinha em quinto, a 330P3 da NART conduzida por Pedro Rodriguez/Richie Ginther. As Ferrari oficiais vinham em sétimo e oitavo, três segundos atrás dos Ford.

E, às 16 horas do sábado, dia 18 de junho de 1966, Henry Ford II baixava a bandeira tricolor para a mais esperada 24 Horas de Le Mans dos últimos tempos. Fechada a primeira volta debaixo de um tempo ameaçador, quem vem na liderança é o MkIIA e Grahan Hill, seguido de Dan Gurney e Ronnie Bucknum.



Em quarto aparece a Ferrari 330P3 de Mike Parkes, acossada pelo Ford de John Whitmore. Atrasada na largada, a outra 330P3 de Rodriguez/Ginther, evolui rapidamente em meio ao pelotão intermediário, com mexicano pilotando como um alucinado.

A posição de espera da Ferrari tem um objetivo, é previsto que os Ford MkIIA parem com apenas uma hora de corrida para reabastecimento. Mas os americanos haviam feito um bom trabalho, melhorando substancialmente o consumo dos Ford. Assim, somente com 1 hora e 20 minutos de corrida é que os MkIIA procuram os boxes para reabastecimento. Surpreendida, a Ferrari tem que parar com 1 hora e 10 mintos e este intervalo é fundamental para que os Ford de Gurney e Ken Miles mantenham a liderança.

Com três horas de corrida, o combate direto se dá entre os Ford de Ken Miles e Dan Gurney e as Ferrari 330P3 de Rodriguez e Mike Parkes. Este duelo, com modificações somente em função do reabastecimento, se dará por toda a madrugada com os carros disputando cada metro de pista. Nos boxes da Ford, a preocupação é com a duração dos freios, sendo a maioria trocada com menos de três horas de uma previsão de cinco horas.

Com sete horas de corrida, aumenta a tensão na Ford: dos oito MKII A iniciais, três já estão fora com problemas tão diversos como freios, suspensão e quebra de eixo. Mas após 12 horas de corrida, o tremendo esforço efetivado pelas Ferrari começa a cobrar seu preço: as duas 330P3 que alternam-se na liderança com os Ford MkIIA começam a sofrer de superaquecimento. A estratégia italiana muda completamente. Os pilotos são orientados a baixar o train de corrida com vistas a chegar ao final.

Mas Rodriguez se recusa diminuir o ritmo e deixar os Ford irem embora. Para complicar um pouco mais a situação da Ferrari, a 330P3 de Ludovico Scarfiotti/Mike Parkes se choca com a Matra de Jo Schlesser, ficando fora da competição. É um duro golpe para os italianos, pois o carro até ali fora poupado para dar combate aos Ford. Para observadores mais atentos, é o fim da Ferrari. Com a outra 330P3 sofrendo de superaquecmento e a perda e duas marchas, dificilmente o carro chegará ao final da corrida.



Neste meio tempo, quatro Ford MkIIA assumem as principais posições na corrida, com a liderança sendo trocada entre Dan Gurney/Jerry Grant, Ken Miles/Dennis Hulme e Bruce McLaren/Chris Amon, seguidos á distância pelo escudeiro MkIIA de Ronnie Bucknum/Dick Hutchison. Uma vitória da Ford parece inevitável, quando a última Ferrari 330P3, a de Jean Guichet/Lorenzo Bandini abandona de vez a competição.

Para a Ford, se alguma concorrência pudesse vir agora era dos Porsches 906S de 2,2 litros, que vinham liderando com tranquilidade sua classe. Às nove da manhã, um radiador furado elimina o Ford MkIIA de Dan Gurney/Jerry Grant, o mais rápido carro da esquadra americana e o mais provável para vencer em Le Mans. Sem maiores atropelos e com três protótipos ainda na pista, os carros de Mclaren/Amon, Ken Miles/Hulme e Ronnie Bucknum/Hutchison cruzam a linha de chegada. A Ford vencera o desafio e a Ferrari em Le Mans...

E a Europa acabava de se curvar ao rolo compressor americano....

(fotos reprodução)


Em quarto aparece a Ferrari 330P3 de Mike Parkes, acossada pelo Ford de John Whitmore. Atrasada na largada, a outra 330P3 de Rodriguez/Ginther, evolui rapidamente em meio ao pelotão intermediário, com mexicano pilotando como um alucinado.

A posição de espera da Ferrari tem um objetivo, é previsto que os Ford MkIIA parem com apenas uma hora de corrida para reabastecimento. Mas os americanos haviam feito um bom trabalho, melhorando substancialmente o consumo dos Ford. Assim, somente com 1 hora e 20 minutos de corrida é que os MkIIA procuram os boxes para reabastecimento. Surpreendida, a Ferrari tem que parar com 1 hora e 10 mintos e este intervalo é fundamental para que os Ford de Gurney e Ken Miles mantenham a liderança.

Com três horas de corrida, o combate direto se dá entre os Ford de Ken Miles e Dan Gurney e as Ferrari 330P3 de Rodriguez e Mike Parkes. Este duelo, com modificações somente em função do reabastecimento, se dará por toda a madrugada com os carros disputando cada metro de pista. Nos boxes da Ford, a preocupação é com a duração dos freios, sendo a maioria trocada com menos de três horas de uma previsão de cinco horas.

Com sete horas de corrida, aumenta a tensão na Ford: dos oito MKII A iniciais, três já estão fora com problemas tão diversos como freios, suspensão e quebra de eixo. Mas após 12 horas de corrida, o tremendo esforço efetivado pelas Ferrari começa a cobrar seu preço: as duas 330P3 que alternam-se na liderança com os Ford MkIIA começam a sofrer de superaquecimento. A estratégia italiana muda completamente. Os pilotos são orientados a baixar o train de corrida com vistas a chegar ao final.

Mas Rodriguez se recusa diminuir o ritmo e deixar os Ford irem embora. Para complicar um pouco mais a situação da Ferrari, a 330P3 de Ludovico Scarfiotti/Mike Parkes se choca com a Matra de Jo Schlesser, ficando fora da competição. É um duro golpe para os italianos, pois o carro até ali fora poupado para dar combate aos Ford. Para observadores mais atentos, é o fim da Ferrari. Com a outra 330P3 sofrendo de superaquecmento e a perda e duas marchas, dificilmente o carro chegará ao final da corrida.



Neste meio tempo, quatro Ford MkIIA assumem as principais posições na corrida, com a liderança sendo trocada entre Dan Gurney/Jerry Grant, Ken Miles/Dennis Hulme e Bruce McLaren/Chris Amon, seguidos á distância pelo escudeiro MkIIA de Ronnie Bucknum/Dick Hutchison. Uma vitória da Ford parece inevitável, quando a última Ferrari 330P3, a de Jean Guichet/Lorenzo Bandini abandona de vez a competição.

Para a Ford, se alguma concorrência pudesse vir agora era dos Porsches 906S de 2,2 litros, que vinham liderando com tranquilidade sua classe. Às nove da manhã, um radiador furado elimina o Ford MkIIA de Dan Gurney/Jerry Grant, o mais rápido carro da esquadra americana e o mais provável para vencer em Le Mans. Sem maiores atropelos e com três protótipos ainda na pista, os carros de Mclaren/Amon, Ken Miles/Hulme e Ronnie Bucknum/Hutchison cruzam a linha de chegada. A Ford vencera o desafio e a Ferrari em Le Mans...

E a Europa acabava de se curvar ao rolo compressor americano....

(fotos reprodução)

Nenhum comentário: