Por Chuck Squatriglia, do wired.com via http://jalopnik.com.br
A distância cultural e até o preconceito jogam contra as corridas de dragsters por aqui. Vistas bem de perto, elas se mostram uma das coisas mais inspiradoras sobre rodas. Chuck Squatriglia do Wired.com recentemente falou sobre as arrancadas Top Fuel - o ponto máximo deste esporte.
Eis a primeira parte:
Não há nada de sutil nas corridas de dragsters.
É um esporte de extremos, da quantidade absurda de combustível consumido aos incríveis números de potência e as indecentes somas de dinheiro gasto apenas na busca da aceleração máxima.
Não há nada de sutil nas corridas de dragsters.
É um esporte de extremos, da quantidade absurda de combustível consumido aos incríveis números de potência e as indecentes somas de dinheiro gasto apenas na busca da aceleração máxima.
Em nenhum outro lugar isso fica tão óbvio quanto na linha de largada ocupada por dois dragsters top-fuel despejando 8.000 cv cada. Ficar atrás deles é como abrir os portões do inferno. O ar ronca. O chão treme. Uma nuvem de fumaça nociva é jogada sobre você. Os carros raiam ao horizonte como se tivessem sido arremessados pela mão de Deus.
Os Top-fuel são o máximo das corridas de dragsters. Mesmo em um esporte onde o sucesso é medido em milésimos de segundo, tudo em um top-fuel acontece em um piscar de olhos. Os melhores pilotos conseguem fazer o quarto-de-milha em cerca de 4 segundos. Eles são submetidos a uma força cinco vezes maior que a gravidade. E eles ultrapassam os 480 km/h.
Mais incrível que testemunhar isso, é experimentar isso.
"Não há como descrever. De jeito algum", diz Dave Grubnik, o piloto de 48 anos do dragster top-fuel Kalitta Air. "Quando você pisa no acelerador, tudo desaparece imediatamente do seu campo de visão. Simplesmente some. Você vai de zero a 160 km/h instantaneamente".
Grubnik está exagerando. Na verdade leva cerca de oito décimos de segundo.
Fotos por Jim Merithew/Wired.com.
As sementes das corridas de dragsters americanas foram plantadas na década de 30, nos lagos secos do oeste dos EUA. Mas o esporte como conhecemos não decolou antes do fim da Segunda Guerra. Muita coisa mudou nesses 57 anos desde que a National Hot Rod Association realizou sua primeira corrida oficial em um estacionamento, mas o objetivo ainda é o mesmo: chegar ao outro lado da pista o mais rápido possível.
Para fazer isso, os dragsters produzem quantias insanas de potência e torque.
As regras exigem que os top-fuel - e seus primos "funny cars" - tenham motores V8 de 8,2 litros baseados no Hemi "Elephant Engine" 426 da Chrysler construído entre 1964 e 1971. Quase tudo nos motores é construído sob medida para atender às exigentes especificações, mas por baixo disso ele ainda é um V-8 com uma árvore de comando centralizada e duas válvulas por cilindro.
O bloco do motor e as cabeças dos cilindros são usinados a partir de blocos sólidos de alumínio. Não por capricho, mas porque precisam. "É a única forma de fazê-los fortes o bastante, senão eles estouram", disse Grubnik.
Todo motor precisa de três coisas para funcionar: combustível, ar e uma faísca. O motor de um top-fuel simplemesmente precisa de mais disso.
Muito mais.
O supercharger 14:71 no carro de Grubnik gera 20,5 kg de boost e aspira 90 m³ de ar por minuto em uma corrida. A bomba de combustível move 360 litros por minuto através de um sistema de injeção de fluxo constante. Dois magnetos providenciam as faíscas para o par de velas especiais de cada cilindro.
O resultado é um motor capaz de produzir cerca de 8.000 cv e 829,5 kgfm de torque. Isso é cerca de seis vezes mais que o Bugatti Veyron Super Sport, que é hoje o carro produzido em série mais rápido do mundo.
Esses números, assim como a dívida externa do país, são enormes e difíceis de compreender. Tudo o que você precisa saber é que um motor top-fuel pode mandar um dragster de 1020 kg do zero aos 190 km/h em 1,3 segundo.
A aceleração de 190 a 300 km/h leva 1,7 segundo. A NHRA afirma que um dragster top-fuel é capaz de deixar um caça para trás em uma arrancada. Em dois segundos de corrida o piloto está submetido a uma força cinco vezes maior que a gravidade.
"Em um dragster top-fuel é tudo ou nada. Não há meio-termo. É completamente louco."
Dragsters top-fuel não se parecem com nada que você chama de automóvel. Claro, eles têm quatro rodas, volante e motor, mas as semelhanças acabam por aqui.
Os carros têm 7,62 metros, conforme estipulado pelas regras, e têm um entre-eixos de no máximo 7,62 metros. São feitos de tubos de cromo-molibdênio e carroceria de fibra de carbono. Grubnik diz que a asa traseira do carro gera 2,7 toneladas de downforce a 480 km/h.
Enormes discos de freio de fibra de carbono medindo 14 polegadas junto com um par de para-quedas reduzem a velocidade do carro. Quando o piloto puxa a corda dos dois para-quedas, ele é submetido a uma desaceleração 7 vezes maior que a gravidade.
"Quando você vê um piloto ofegante no final da corrida, não é por causa do esforço físico para pilotar o carro. É por causa do estresse que o corpo sofre ao ir de 5 G para -7 G em quatro segundos", diz Jeff Arend, piloto de um funny car da Kalitta Motorsports.
Funny cars usam os mesmos motores que os top-fuel, mas são carros menores com entre-eixos de 3,17 metros e carroceria completa. Eles são parecidos com modelos de rua, ainda que a Toyota nunca tenha construído nada como a bolha Toyota de Arend.
Ao contrário de um piloto de top-fuel, o cara ao volante de um funny car senta-se atrás do motor, fato que somado ao formato da carroceria, faz da visibilidade um desafio. Arend diz que funny cars são ainda mais difíceis de pilotar.
"Eles têm a mesma potência que um top-fuel, mas são mais curtos", diz Arend. "Um top-fuel tende sempre a andar em linha reta. Um funny car tende a fazer qualquer coisa, menos a andar em linha reta."
Dragsters top-fuel são movidos a uma mistura de 90% de nitrometano e 10% de metanol, embora a mistura possa variar dependendo das condições da prova. Qualquer que seja a proporção, o consumo de um top-fuel seria melhor mensurado em litros por quilômetro.
Eles enxugam 11 litros por minuto em lenta e mais de 4,5 litros por segundo durante a corrida. Um dragster típico consome 45,5 litros de combustível durante o aquecimento, a apresentação e a corrida. O combustível flui através de linhas de 2,5 polegadas a uma pressão entre 400 e 500 psi. A maior parte é desperdiçada pois esses motores não são nada eficientes. "Você precisa de sorte para conseguir 30% de eficiência", diz Grubnik. "Estamos jogando 70% do combustível pelo escapamento".
É por isso que os espectadores mais espertos trazem máscaras de gás.
Os motores são desmontados e reconstruídos depois de cada corrida. Um habilidoso time de sete mecânicos consegue fazer o trabalho em uma hora ou quase, mas se for preciso eles conseguem fazer isso em metade do tempo.
As bielas e pistões de alumínio forjado, junto com as válvulas de escape, velas e discos de embreagem são substituídos depois de cada corrida. Todo o resto passa por uma inspeção e é arrancado se houver qualquer dúvida sobre sua integridade ou confiabilidade. Uma vez remontado, o motor recebe 12,3 litros de óleo 70w.
É um empreendimento enorme e é por isso que a Kalitta Motorsports usa cinco caminhões para transportar três carros, sete motores reserva e peças suficientes para construir um carro do nada, se preciso.
continua na parte 2...
Um comentário:
Postagem espetacular, belo texto! Postei em nosso twitter!
parabéns, estou sempre de olho!
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