Uma entrevista exclusiva para nosso parceiro LemansPortugal com Oliver Pla. O Lemans Portugal esta acompanhando in loco a prova dos 1000km de Algrave. Voce confere resultados e alguns posts sobre a prova aki no Burnout Racing com o Sergio Carvalho e o www.lemansportugal.com
por Vitor Ribeiro www.lemansportugal.com
Quando no seguimento do teste, tendo em vista contratar um piloto para ocupar a vaga em aberto no LMP2 da ASM, feito ao português Filipe Albuquerque, ao brasileiro Xandinho Negrão e ao francês Olivier Pla, a escolha da equipa portuguesa recaiu sobre este último, muitos fãs portugueses criticaram o facto de não ter sido dada prioridade a um português e à constituição, assim, de uma dupla portuguesa.
Na altura, António Simões, patrão da ASM, teve oportunidade de explicar que entre Albuquerque e Pla, mais do que a rapidez, muito semelhante entre ambos, foi a garantia dada pelo francês de compromisso para com a endurance que pesou mais na escolha, uma vez que Albuquerque alimentava ainda o sonho da F1.
Seja como for, o facto é que toda a gente no seio da equipa (sem menosprezo pelo valor dos outros pilotos) está satisfeita com a escolha, não só pela qualidade do seu trabalho mas também pela forma como Olivier se envolve no trabalho da equipa e se relaciona com todos, não lhe sendo por isso regateados elogios. Foi de facto curioso vê-lo na terça-feira, dia em que a equipa chegou ao circuito, acompanhar os trabalhos de montagem da box, descarregar o carro, desmontar o carro e verificá-lo e inspecioná-lo de uma ponta à outra, deambulando por ali, junto dos mecânicos, quando bem podia ter dado um salto à praia mais próxima ou ir curtir o sol algarvio numa qualquer esplanada, pois de facto nada ali tinha para fazer. E na quarta, dia das verificações técnicas (e, mais uma vez, sem nada que um piloto tivesse para fazer), lá estava ele de novo, qual general sempre ao lado das suas tropas, como se sentisse qua sua simples presença constituísse um estímulo para todos.
Lemansportugal (LMP): Olivier, pode-nos fazer uma breve descrição da circuito de Portimão?
Olivier Pla (OP): O novo circuito de Portimão, para ser honesto, não é uma pista fácil, com muitas curvas cegas, muito técnico e rápido onde é não é fácil ultrapassar.
Chegámos à primeira curva a cerca de 265 Km/h, reduzindo para quarta e travando muito tarde. A travagem é curta, e a curva é feita a 132 Km/h, o que é bastante rápido. Depois saímos para a segunda curva, que se faz a fundo, e chegámos ao gancho (curva 3), que se faz em terceira, depois de uma travagem forte. É muito importante sair bem desta curva, acelerando cedo, porque a seguinte (curva 4) é feita a fundo e irá condicionar a velocidade na recta interior e aproximação à curva 5. Esta é outra curva de travagem forte, em descida, feita em terceira. Depois quarta, fazendo a curva 6 a fundo, e chegamos à curva 7, uma curva rápida onde apenas damos um ‘cheirinho’ no travão e saímos logo a fundo para curva 8. Aqui travamos forte, e fazemos a curva em segunda. A curva 8 não é uma curva fácil, porque a saída é ‘cega’ e difícil de encontrar tracção. Depois subimos para quinta velocidade, na aproximação às curva 9, outra curva feita a fundo, em quinta, em subida. Depois chegamos a uma das curvas, que na realidade são duas (curvas 10 e 11), mais difíceis, porque não consegues ver o apex da primeira curva. A travagem é feita sem visibilidade, sendo muito difícil de encontrar a linha de trajectória. A travagem faz-se no interior do apex e depois temos de sair rápido para a descida pronunciada que se segue e encontrar bastante velocidade, fazendo a curva 12 a fundo, e depois voltar a subir para a curva 13. Este gancho, feito em segunda, também não é fácil, é uma curva com pouco grip, onde é sempre difícil encontrar tracção. Depois chegamos à curva 14, cuja entrada é lenta mas a saída é aberta, por isso temos de carregar embraiagem bem cedo, porque a curva seguinte, a 15, é feita a fundo, em quinta. à saída da curva 15 já é feita em sexta, condição necessária para atingir uma velocidade conveniente na recta principal, que é muito importante para a obtenção de um bom tempo.
LMP: Num circuito com estas características, nomeadamente curvas cegas, os problemas com os carros mais lentos acentuam-se. Quais as mais complicadas nesse aspecto?
OP: Nesse aspecto, as curvas mais difíceis são a curva 1 e também a curva 8, onde não conseguimos ver o que está à nossa frente, pois até à curva 9 é a descer.Das outras, definitivamente, é a curva 10/11, onde também não consegues ver bem para onde vais. Tens de travar, endireitar e fazer a curva o mais rápido possível para depois descer para curva 12.
LMP: Sendo a curva 1 uma das mais difíceis, poderá haver problemas acrescidos na partida?
OP: Não sei, mas a partida é sempre um momento complicado. Tens de ter cuidado, pois chegamos bastante depressa e tudo pode acontecer… enfim, só nos resta tentar evitar problemas.
LMP: A pista algarvia é muito exigente, em termos físicos?
OP: É bastante exigente. Não dá tempo para relaxar, pois a recta, onde geralmente aproveitamos para o fazer, faz um lomba logo no início. Há também muitas curvas de alta velocidade, onde estamos sujeitas a elevados valores de força G, o que é muito exigente, em especial para o pescoço, sendo necessário concentrarmo-nos na pista e evitar cometer erros.
LMP: Faz alguma preparação específica, antes de cada corrida?
OP: Em casa treino bastante, em especial os ombros, braços e pescoço, que é onde o carro exige mais esforço. O LMP é um carro fisicamente muito exigente, com muita downforce, muito difícil de conduzir em termos físicos, por isso temos de estar bem preparados.
LMP: As corridas do LMS têm sido todas disputadas entre o meio da manhã e o meio da tarde. Esta, pelo contrário, será disputada já pela noite dentro. O que acha disso?
OP: É sempre bom experimentar coisas novas. Acho que foi uma boa ideia, fazer uma corrida nocturna. Claro que não será fácil, mas para o espectáculo é bom.
LMP: E relativamente ao formato das corridas - sempre 1000 km. Parece-lhe bem ou gostaria de maior variedade?
OP: O formato de 6 horas é muito bom. É uma corrida longa, em que o piloto tem oportunidade de estar durante muito tempo em pista, de praticar bastante. É bom!
LMP: Toda a sua carreira foi sendo construída nos monolugares, onde tinha um carro só para si. Aqui na endurance, pelo contrário, tem de partilhar o carro com outro piloto. Como encara isso.
OP: No início, claro, senti bastante a mudança. Nos monolugares pensas apenas em ti. Quaisquer equenos detalhes, como a melhor posição dentro do cockpit, é feita a pensar apenas em ti. Mas quando partilhas o carro, já tens de pensar também no teu colega de equipa, já tens de procurar o melhor compromisso. Mas desde que encontres esse compromisso, não há qualquer problema.
LMP: Quais são as suas expectativas para esta corrida.
OP: Para ser honesto… estamos na segunda posição do campeonato, em luta com os Lola da Speedy Sebah (pois a Porsche não está presente) e da Racing Box, e por isso vai ser uma luta renhida. O nosso carro é muito bom, mas o Lola também. Os pilotos também são muito bons. Por isso, não será fácil, mas acho que temos um bom conjunto e a equipa tem feito uma excelente trabalho. Pela minha parte, farei o máximo por ganhar a corrida, mas se não ganharmos teremos de pelo menos subir ao pódio, para manter a esperança de ganhar o campeonato.
LMP:Parece-me evidente que o Olivier gosta de correr com a equipa ASM. Mas, pensando na progressão da sua carreira, não pensa ou sonha em ‘dar o salto’ para a LMP1?
OP: Bem, eu já conduzi um LMP1 no ALMS, em Petit le Mans, com a Zytek, e não achei que houvesse grande diferença entre os LMP2 e os LMP1. É claro que o LMP1 tem mais potência, mas ambos os carros são igualmente exigentes e de alto nível. Estou muito feliz por participar no LMS, pois há muitos bons pilotos, o nível é alto, os carros são bons. LMP1?… Claro, mas… de momento sinto-me muito bem na ASM, onde tenho um trabalho para fazer e é nele que estou totalmente concentrado. No futuro nunca se sabe. Gostei muita equipa logo desde o primeiro momento, já fizemos coisas muitas boas e acho que ainda podemos vir a fazer mais.
LMP: Há muitos jovens pilotos a chegar ao LMS, para muitos dos quais a F1 continua a ser um sonho. Acha que a endurance é uma boa alternativa?
OP: Bem, eu sempre tive bastante interesse em fazer Le Mans e corridas de endurance, que já acompanhava bastante quando ainda corria na GP2. Um protótipo é muito semelhante a um monolugar das WSR ou GP2, e depois na F1 há apenas vinte lugares disponíveis, por isso chega um momento na carreira em que se tem de fazer uma escolha, que foi o que fiz. Não vale a pena perder tempo à procura de patrocinadores para chegar à F1, à espera de algo que não vai acontecer. Para mim foi a melhor opção.
LMP: Para 2010, o ACO planeia promover um Troféu Intercontinental e, num prazo de cinco anos, um Campeonato Mundial. Para um piloto, um Troféu ou Campeonato Mundial representaria uma motivação extra?
OP: Claro, seria bastante interessante, daria mais visibilidade ao campeonato. Eu gosto muito de participar no LMS e penso que seria uma oportunidade para haver maior investimento na endurance, pois as corridas de endurance são a demonstração da fiabilidade e resistência de um carro e a F1 custa imenso dinheiro. Eu acho a endurance tem um bom futuro e será bom que haja um campeonato mundial.
Merci beaucoup, Olivier, pela simpatia e disponibilidade e boa sorte para corrida!
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