domingo, 9 de outubro de 2011

FERRARI X FORD, O COMBATE FINAL (2)

por Mestre Joca http://mestrejoca.blogspot.com

A Continental 24 Horas de Daytona seria o capítulo inicial do grande embate entre as fábricas, no Campeonato Mundial de Construtores (ou Marcas) de 1967. Após um período de testes em Monza e na própria Daytona, a Ferrari parecia bastante confiante nos seus modelos 330P4 em solo americano.

A fábrica italiana depositava ilimitadas esperanças nas renovadas 330P4 que, apesar do mesmo aspecto do ano anterior eram inteiramente novas abaixo da superfície: motor V12 de 3.967 cc, injeção Lucas, quatro comandos, 36 válvulas, 450 HP a 8.000 rpm, uma nova suspensão traseira e um peso total 25% mais leve que seu principal contendor, o Ford MKIIB.

Já pelo lado da Ford, os americanos apostavam suas fichas numa nova arma: o Ford J, ou também conhecido como MKIV, projeto inteiramente revisado após o terrível acidente que vitimara Ken Miles no ano anterior. Com um revolucionário (para a época, claro) chassi em honeycomb, tanto o MKIV como os renovados MKIIB utilizavam novos motores V8 derivados de série, com quatro carburadores duplos Holley, capazes de gerar 530 HP (45 HP acima do que havia vencido em Le Mans em 1966), mas com peso 12% mais elevado devido aos reforços de chassi e gaiola de proteção.

E como reforço adicional, a Ford recorre mais uma vez aos serviços de John Wyer, sendo agora o inglês responsável pelo desenvolvimento e atendimento tanto dos GT-40 oficiais como os particulares que correriam sob os auspícios do Grupo 4 (Sport Cars). Vindo por fora, a ameaça aparenta ser o novíssimo Chaparral 2F, dotado de motor Chevy de 7 litros e câmbio automático de duas marchas. Apresentado com uma nova carroceria, mais quadrada e portando duas enormes entradas de ar sobre os para-lamas posteriores e o impressionante aerofólio móvel sobre a suspensão traseira.

As Lola-T70 de Eric Broadley, a despeito do pacote técnico bastante interessante (motores Chevy V8 de 5 litros, como equipamento standard), ainda se apresentava como uma incógnita. Entre os carros menores, a Porsche com seu novo modelo 910 (de seis e oito cilindros) sempre um adversário temível, a nova Alfa Romeo 33 V8 e a estreante Matra-BRM prometiam um duelo sem igual.

As 24 Horas de Daytona

Depois de animadores testes privados em Daytona, em dezembro de 1966, onde virou sempre mais rápido que os Ford MKIIB, a Ferrari decidiu que não poderia ficar de fora das etapas iniciais do Mundial de Marcas. Em Daytona, o esperado Ford J (ou MKIV) não deu as caras e seis novíssimos, modelos Mark IIB foram entregues pelos habituais times Shelby American Inc. e Holman & Moody e suas duplas de pilotos Dan Gurney/A.J. Foyt, Mario Andretti/Richie Ginther, Lucien Bianchi/Bruce McLaren, Dennis Hulme/Lloyd Ruby, Ronnie Bucknum/Frank Gardner e Peter Revson/Mark Donohue. Já a Ferrari contra-atacava com as duplas oficiais Lorenzo Bandini/Chris Amon e Ludovico Scarfiotti/Mike Parkes), secundadas pela dupla Pedro Rodriguez/Jean Guichet do North American Racing Team.

Nos treinos oficiais o surpreendente Chaparral 2F (Phil Hill/Mike Spence) segurou a pole position até ser superado nos instantes finais pelo Ford MKIIB de Dan Durney, este virando com pneus especiais de classificação e tanques quase vazios, por meros 26 décimos ! A seguir vinham a Ferrari 330P3/P4 (do ano anterior) com Pedro Rodriguez/Jean Guichet do Team Nart e a primeira 330P4 oficial, a de Lorenzo Bandini/Chris Amon. A outra 330P4 (Ludovico Scarfiotti/Mike Parkes) vinha somente em sexto, mergulhada num mar de Fords MKIIB e o segundo Chaparral, o modelo 2D de Bob Johnson/Bruce Jennings.

Dada a largada, quem passa à frente é o Chaparral 2F de Phil Hill que, sob um ritmo alucinante, já abre cerca de 3 segundos sobre o Ford MKIIB de Mario Andretti. Logo seguir vem Dan Gurney( MKIIB) e a primeira Ferrari P4, a de Lorenzo Bandini, e a do Team Nart com Pedro Rodriguez.

Hill continua a aumentar o ritmo pelas primeiras 15 voltas, emnquanto na Ford começava seu drama particular. Primeiro foi Andretti que teve que parar para trocar as quatro rodas de seu MKII devido a uma vibração não identificada. O segundo foi Ronnie Bucknum, com problemas de transmissão.

Após somente 23 voltas, a Ford via seu esquadrão inicial de seis carros reduzidos a apenas quatro em reais condições de vitória. Após uma hora de corrida Denny Hulme/Lloyd Ruby, Bruce McLaren/Lucien Bianchi, A. J. Foyt/Dan Gurney e Peter Revson/Mark Donohue já havia superado as Ferrari e partiam no encalço do veloz Chaparral, agora comandado por Mike Spence após as paradas de reabastecimento e troca de pilotos.



Tocando o fino, Mike Spence consolida a ampla vantagem do Chaparral 2F enquanto ao final da segunda hora de corrida aumenta o drama da Ford: Bruce McLaren adentra os boxes com problemas de superaquecimento do motor, mal que acometeria o MKIIB por toda a corrida. Neste meio tempo, atendendo a uma estratégia conservadora a Ferrari vai mantendo o passo, esperando a quebra inevitável dos principais oponentes. Willy Mairesse sustenta o segundo lugar com uma P3 do time belga Filipinetti à frente das 330P4 oficiais de Bandini/Amon e Parkes/Scartfiotti que desfilam pela pista numa regularidade impressionante.

A estratégia da equipe italiana começa a render frutos quando na volta 88, logo após assumir os comandos do Chaparral 2F líder, Phil Hill chocou-se de traseira contra a barreira de proteção na pista inclinada do circuito, arruinando a suspensão traseira direita. A liderança então cai nas
mãos de Mike Parkes/Ludovico Scarfiotti e Bandini/Amon, respectivamente. Mario Andretti/Richie Ginther (Ford MKIIB) assumem o terceiro posto, mas por pouco tempo pois problemas na caixa de transmissão os relegam a uma longa parada nos boxes, além da falta de eficiência dos amortecedores.

Os problemas na equipe Ford se acumulam. Após ocupar o terceiro posto, o carro de Gurney/Foyt começa a se atrasar por defeito na embreagem, deixando o caminho livre para as Ferrari ocuparem os quatro primeiros lugares. Com a chegada da noite os boxes da Ford fervem de agitação, com um carro entrando nos pits a cada minuto. A preocupação dos americanos reside nas caixas de câmbio, das nove levadas como reserva cinco já haviam sido instaladas.E havia a previsão que as outras não aguentariam até o final. Já as Ferrari atravessavam a noite sem o menor esforço, funcionando como um relógio.

Às primeiras luzes da manhã, a 330P4 de Mike Parkes/Ludovico Scarfiotti liderava tranquilamente, seguida de perto por Chris Amon/Lorenzo Bandini. O único Ford MKIIB ainda em condições de luta era o de Dan Gurney/A. J. Foyt vindo em quarto mas pressionado pela Ferrari P3/P4 de Pedro Rodriguez e pelo - imaginem só - Porsche 910 de Hans Hermann/Jo Siffert. Os outros MKIIB já haviam abandonado com problemas mecânicos, à exceção também de Bruce McLaren/Lucien Biancci, mas tão longe dos líderes que não representava nenhuma preocupação para a Ferrari.

Com 3/4 da corrida realizada, as esperanças da Ford foram para os ares junto com o motor do MKIIB de Gurney/Foyt. Com somente um carro na pista, Dan Gurney juntou-se ao MKIIB de Bruce McLaren/Lucien Bianchi mas, a despeito de terem evoluido até o sétimo lugar, problemas de superaquecimento de motor não os permitiram ir além. Sem os principais adversários, a Ferrari diminuiu seu ritmo nas quatro últimas horas de corrida.

E obedecendo às ordens dos boxes, os carros de Lorenzo Bandini/Chris Amon, Mike Parkes/Ludovico Scarfiotti e Pedro Rodriguez/Jean Guichet cruzaram juntos a linha de chegada, a exemplo do que a Ford fizera em Le Mans no ano anterior. A Ford fora humilhada em sua própria casa...!

A seguir: a estréia do Mark IV em Sebring.

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