domingo, 14 de agosto de 2011

O COMBATE FERRARI VERSUS FORD (8)

Le Mans 1964, luta de vida ou morte.

 por Mestre Joca http://mestrejoca.blogspot.com

O Ford GT-40 só reapareceria em Le Mans, enquanto os Shelby Cobra defendiam as cores da Ford no Campeonato Mundial de carros GT, enfrentando as Ferrari 250 GTO 64. A corrida francesa havia se transformado neste ano numa verdadeira praça de guerra. De um lado a desafiante Ford, com três Ford GT-40 de 4.2 litros e 375 HP inscritos para as duplas Phil Hill/Bruce Mclaren, Richie Ginther/Masten Gregory e Jo Schlesser/Richard Attwood.

Após os treinos decepcionantes nos testes de abril e a estréia auspiciosa em Nürburgring houve um notável avanço. Os americanos sentiam-se confiantes em reeditar a façanha da Mercedes que vencera Le Mans logo na estréia, a despeito da não entrega da esperada caixa de marchas ZF pelo fabriante alemão e que se tornara o calcanhar de Aquiles do Ford GT-40.

Dois dois lados do oceano, a imprensa se dividia em artigos e reportagens incendiárias. A imprensa americana destacava o fato da Ford ter que vencer a qualquer custo. A européia rechaçava a presença e a ousadia do "invasor" americano. De um lado, o Davi italiano representado pela Ferrari, de outro o Golias americano, envolvidos num combate onde se enfrentariam a tecnologia ee o racionalismo americanos contra o pragamatismo e e xperiência européias.

Na defesa dos brios europeus estava o team Ferrari que havia trazido para Le Mans nada menos que oito carros, sendo que quatro da equipe oficial. Uma 330P de 4.0 litros e 370 HP para a John Surtees/Lorenzo Bandini e três 275P de 3.3 litros e 330 HP para as duplas Jean Guichet/Nino Vaccarella, Ludovico Scarfiotti/Mike Parkes e Umberto Maglioli/Giancarlo Baghetti.

Além dos quatro carros oficiais, a Ferrari tentava se garantir com mais quatro protótipos semi-oficiais: duas 33oP 4.0 litros para as duplas Grahan Hill/Jo Bonnier, Pedro Rodriguez/Skip Hudson (Team Nart), e duas 250 LM para David Piper/Jochen Rindt e Pierre Dumay/Gerárd Langlois Van Ophem. Na categoria GT, contava-se quatro Cobras Shelby contra quatro Ferrari 250 GTO 64.

Nos treinos oficiais, os americanos provaram que não estavam para brincadeiras. Sob o comando do experiente John Wyer, os Ford GT-40 cravaram o segundo tempo (3m45"3, Richie Ginther/Masten Gregory) atrás da Ferrari pole position, a 330P de John Surtees/Lorenzo Bandini (3m42"00).

A seguir vinham a Ferrari 330P NART de Pedro Rodriguez/Skip Hudson e o outro GT-40 de Phil Hill/Bruce Mclaren. O terceiro GT-40, o da dupla Jo Schlesser/Richard Attwood, com ordens estritas de manter um ritmo mais lento, aparecia apenas em nono lugar e o último da categoria Protótipos.

E ás 16:00 horas do dia 20 de junho de 1964, os carros alinharam para a largada daquela que seria as 24 Horas de Le Mans mais esperada dos últimos anos. E ao sinal de partida 55 carros trovejaram e se lançaram numa encarniçada batalha que duraria as próximas 24 horas, debaixo de um tempo frio e nublado pouco comum naquela época do ano.

Le Mans, 1964, cenas do filme "Um homem, uma mulher".

Três Ferrari tomaram logo a frente, as de Pedro Rodriguez, Grahan Hill e David Piper. O GT-40 de Phil Hill - quatro vezes vencedor em Le Mans - é o último a sair, quase um minuto atrasado devido à recusa de seu motor em funcionar.

A alegria incontida de italianos e europeus dura somente uma volta. Na passagem da segunda, quem vem na liderança é o Ford GT-40 de Richie Ginther, seguido das quatro Ferrari 330P. Ginther força bastante o ritmo nas voltas seguintes, como se estivesse numa corrida curta, estratégia clássica conhecida como " o coelho". Eugenio Dragoni manda as Ferrari diminuirem o ritmo, há muita corrida pela frente. A estratégia de John Wyer começava a fazer água...

O GT-40 de Richie Ginther acossa Grahan Hill e é seguido por Pedro Rodriguez.

Após uma hora de corrida, Richie Ginther e seu GT-40 continuam à frente quase um minuto adiante da Ferrari 330P de John Surtees. O outro GT-40 de Phil Hill/Bruce Mclaren padece de sérios problemas de falhas no motor, já tendo parado cinco vezes e caido na classificação geral.

Começam as paradas para reabastecimento e troca de pilotos na segunda hora e Ginther opta por mais um turno ao volante. Às seis da tarde e quase três minutos à frente da Ferrari, ele entrega seu carro para o companheiro Masten Gregory que sai dos boxes 36 segundos atrás da Ferrari 330 P de John Surtees/Lorenzo Bandini.

A luta agora é franca. Surtees/Bandini (Ferrari) mantém-se à frente, Ginther/Gregory (GT-40) continuam em segundo, perseguidos pelas Ferrari de Guichet/Vaccarella, Grahan Hill/Jo Bonnier e Pedro Rodriguez/Skip Hudson. O terceiro GT-40 sobe aos poucos na classificação numa corrida estratégica, já logrando a sexta posição. Mas no final da quinta hora de corrida, já plena noite, a Ford tem duas baixas quase de imediato. O GT-40 de Richard Attwood sofre um princípio de incêndio no final da reta de Mulsanne e o carro é retirado da competição. Quase ao mesmo tempo, o GT-40 segundo colocado pára nos boxes com a caixa de câmbio Colotti quebrada.

A Ferrari perde também por quebra de motor a 330P de Pedro Rodriguez, enquanto o único GT-40 ainda restante na pista (Phil Hill/B. McLaren) vem em 12o. lugar, seis voltas atrás da Ferrari líder. Para consolo da Ford, os Shelby Cobra lideram a Classe GT com Chris Amon/Jochen Neerspach liderando a Dan Gurney/Bob Bondurant. A melhor Ferrari 250 GTO 64 vinha naquele momento em décimo, com Innes Ireland.

Ás quatro da madrugada e metade da corrida, Le Mans já fizera suas vítimas: 3 jovens morreram atropelados pela Ferrari 275P de Giancarlo Baghetti e entre os líderes a Casa de Maranello perdera dois carros, mesmo número da Ford. Tendo iniciado com sete carros, restam cinco FErrari e apenas um Ford. E desde o início da noite, o GT-40 de Phil Hill/B. Mclaren é o mais rápido carro na pista. Tendo dirigido a maior parte do tempo, Hill avançou do 12o. posto até o quinto lugar, tendo marcado o recorde da pista nesta investida: 3m49"2, média de 211,429 Km/h !

A aposta de John Wyer é alta, mas ele ainda mantém a esperança de ganhar em Le Mans. As duas Ferrari na liderança sofrem de problemas mecânicos. A de Grahan Hill/Jo Bonnier com problemas de embreagem e perda das duas últimaas marchas e a de Surttes/Bandini com vazamento de água. E ao raiar do dia o drama bate às portas da Ferrari. Seus dois carros na liderança sofrem de problemas de fricção e são 1o segundos mais lentos que o Ford GT-40, agora em quarto e apenas uma volta atrás. Em terceiro, corre surpreendentemente um Shelby Cobra que não terá problemas em ceder passagem ao protótipo da Ford.

As esperanças se renovam na equipe de John Wyer, graças ao grande trabalho realizado noite adentro por Phil Hill. O sonho de vencer em Le Mans na estréia, assim como a Mercedes fizera em 1952, se aproxima da realidade. Mas às cinco da manhã, novo drama: a caixa de câmbio Colotti, o calcanhar de Aquiles do GT-40, entrega os pontos. O último dos carros da Ford está fora ! As atenções vão agora para os Shelby Cobra que lideram com folga as Ferrari 250 GTO 64 na Classe GT.

Sem mais nenhum adversário a ameaçar suas posições, a corrida chega ao final com as três Ferrari na frente. Vitória inconteste de Jean Guichet/Nino Vaccarella, seguidos por Grahan Hill/Jo Bonnier e John Surtees/Loenzo Bandini. Em quarto e vencedor na Classe GT, chega o Shelby Cobra Daytona de Dan Gurney/Bob Bondurant, prêmio de consolação para o esforço da Ford. O GT-40, a despeito da derrota, se mostrara um grande carro e uma promessa para o futuro.

Duas semanas mais tarde eles se reencontrariam nas 12 Horas de Reims, o segundo assalto deste combate épico.

(fotos reprodução)

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