Abraço
Anderson
Há tempos, alguns amigos me cobram escrever sobre o grande combate que se travou entre Ford e Ferrari no início dos anos 60 e que mudou para sempre o panorama das corridas a partir de então. É o que vou tentar fazer a partir de agora no nosso blog, claro que numa versão bem condensada.
Os senhores da guerra.
Domingo, 25 de abril de 1965, meio dia.
Um carro esporte estaciona no pequeno restaurante em Maranello, em frente ao portão principal da fábrica Ferrari. Um homem de cabelos brancos trajando terno negro e óculos escuros, ainda muito forte nos seus 67 anos, desce do carro e se dirige à sua mesa habitual. Há poucos frequentadores ali, mas todos o conhecem. É o Commendatore Enzo Ferrari, a legenda do esporte automobilístico mundial.
Ninguém o perturba, sabem o que está em jogo. Afinal, nos últimos meses não se falou em outra coisa na imprensa esportiva européia. O mesmo garçom que o serve há anos se aproxima, estende o cardápio apenas por zelo profissional, sabe o que seu cliente vai pedir. Enzo Ferrari é um homem organizado, de movimentos previamente calculados, previsível até. Mas hoje, especialmente, ele se permite uma taça de vinho tinto.
Findo o almoço frugal, ele se dirige ao seu escritório na fábrica. A desculpa é colocar em dia a correspondência atrasada. Mas os que seguem com os olhos sabem que por trás de toda aquela frieza e cortesia contidas, o Commendatore fervilha de impaciência. Longe dali, em Monza, se jogava a primeira cartada de uma partida vital para a sobrevivência da Ferrari.
Por volta das seis da tarde, o telefone finalmente toca. Do outro lado, está Eugenio Dragoni, diretor esportivo da Ferrari. A mensagem é curta, apenas repassa o resultado da corrida, os Mil Km de Monza: MikeParkes e Jean Guichet em primeiro, John Surtees e Ludovico Scarfiotti em segundo, ambos pilotando as Ferrari oficiais de fábrica. Somente em terceiro, e quatro voltas atrás chegara GT-40 de Bruce McLaren e Ken Miles, a arma do desafiante, a poderosa Ford norte americana.
"Bravos, está bem. Reunião para terça feira, como sempre, na sala dos erros". Só aí o Comendattore se permite um pequeno suspiro de alívio e saiu rumo à sua casa em Modena, para o refúgio de sua solidão. Enzo Ferrari vencera a primeira batalha de uma guerra que se presumia muito longa e que se iniciara um ano atrás.
Dois dias depois, o estado-maior da Ferrari - oito técnicos e o chefe - se reúne na "sala dos erros", localizada no segundo andar do prédio de escritórios e que reflete a personalidade ímpar de Enzo Ferrari. Ali, em volta de uma mesa redonda, há uma série de pequenas vitrines com peças devidamente etiquetadas.
Uma biela partida, um pistão furado, um parafuso que se rompeu, uma suspensão quebrada. Enfim, são as testemunhas mudas dos erros que custaram uma importante vitória. Às vezes, minúsculas peças como uma reles mangueira furada que custaria uns míseros centavos mas que colocaram por terra um esforço de milhões de liras.
E é nesta sala que os técnicos e o chefe discutem os erros e acertos da corrida passada e as estratégias futuras, à luz da técnica mecânica e da viabilidade econômica. A Ferrari colocava ali todo o seu prestígio e nome, tendo por capital somente toda a experiência e conhecimento técnico
adquiridos em quase duas décadas em que a marca do Cavallino Rampante estivera nas pistas.
Como adversário, a toda poderosa Ford, com seus milhões de dólares e um batalhão de engenheiros que tinham à sua disposição os melhores recursos técnicos, como um inovador projeto de carro feito em computador e apoiado pelas melhores universidades técnicas americanas.
O combate prometia....
(fotos reprodução)
Postado por Mestre Joca
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