Hugo Ribeiro http://www.lemansportugal.com
Os construtores pediram e o ACO foi sensível às suas pretensões, juntando ao título de construtores na LMP1 o titulo de construtores na GT2 e deixando ainda claro que haverá títulos por equipas nas 4 classes, a valeram entradas directas para as tão desejadas 24 Horas de Le Mans.
Como habitualmente, as 12 Horas de Sebring marcam o arranque da temporada de endurance e embora não exista, para já, um campeonato mundial, este é um evento onde o ACO marca sempre presença e onde aproveita para revelar alguns pormenores sobre o futuro da modalidade.
Vincent Beaumesnil e Remy Brouard, respectivamente Director Geral e Director Desportivo do ACO, na companhia do CEO do American Le Mans Series, Scott Atherton, deram uma conferência de Imprensa na manhã que antecedeu a qualificação para a corrida norte-americana, tendo levantado um pouquinho mais do véu que ainda cobre o Le Mans Intercontinental Cup (LMIC), a taça mundial de endurance que será o tubo de ensaio de uma futura World Series que arrancará definitivamente em 2011 com a nova regulamentação.
A grande novidade foi a extensão do titulo de construtores à classe GT2, a pedido dos próprios construtores envolvidos - que não são poucos: Porsche, Ferrari, BMW, Corvette, Aston Martin, Spyker, Jaguar… - que assim se junta ao titulo de construtores na LMP1 anteriormente anunciado. A classe GT2 é claramente a mais dinâmica das provas sobre a alçada do ACO, que prontamente deixou claro que esta questão não foi de todo influenciada pela implosão do Europeu da categoria, prova promovida pela SRO (a mesma entidade que está por detrás do Mundial GT1) e sobre a alçada da FIA.
"Não existe qualquer ligação entre a decisão da FIA e a nossa decisão. Nós decidimos por conta dos pedidos feitos pelos construtores, que foram muitos, e está era a decisão lógica a tomar", afirmou Beaumesnil que deixou ainda claro que ambos os campeonatos representam conceitos bem distintos. "A GT1 terá corridas em formato 'sprint', enquanto que na GT2 estas serão de 'endurance'. A nossa preferência, e prioridade, são as provas de 1000Km."
Com, ou sem, ligação à decisão da FIA, a verdade é que o Europeu FIA GT2 foi claramente um fracasso, com as equipas a preferirem deslocar-se para o LMS. Ao todo, houve apenas 3 inscrições no FIA GT2, e os principais intervenientes desde o inicio que demonstraram maior interesse pelo LMS como foi o caso da AF Corse e da CRS Racing, às quais se juntou ainda a Prospeed após ser tornado claro que o Europeu não iria ser uma realidade.
Mas as novidades não se ficaram por aqui, e para além do titulo de construtores na LMP1 e GT2, o ACO, que inicialmente havia afirmado que o LMIC seria reservado à LMP1, anunciou ainda que haverá títulos por equipas para todas as classes — LMP1, LMP2, GT1 e GT2 — desde que existam pelo menos 4 inscrições em cada uma. O titulo, como esperado, dará direito a uma entrada directa nas 24 Horas de Le Mans do ano seguinte.
O que ainda está por explicar, pelo menos publicamente, é o modelo de negócio que o LMIC irá adoptar. Uma competição intercontinental, mesmo que resumida a 3 continentes, implica uma grande operação de logística com vários carros, material e equipas a terem de ser deslocadas da Europa para a América do Norte, e daí para a Ásia, sem contar com o regresso a casa para a preparação da época seguinte. É conhecido que em outras competições com esta amplitude as despesas da logística são suportadas pela organização através de patrocinadores e parceiros. São operações caríssimas, bem acima das reais capacidades da maioria das equipas que participam no LMS e no ALMS.
Foram ainda adiantados mais alguns pormenores relativos ao calendário para este ano. Silverstone (Europa) e Petit Le Mans (América do Norte) já estavam mais do que confirmados, mas eis que quando todos esperavam a repetição da prova no Japão de 2009, a opção acabou por recair sobre a China num circuito ainda a designar, e numa data também ainda a confirmar algures nas duas primeiras semanas de Novembro.
A escolha da China tem claras premissas em termos comerciais e não terá sido uma decisão apenas tomada pelo ACO, como Beaumesnil explicou. "A China é um mercado emergente e nós queremos estar lá. Foi parte da nossa discussão com os construtores, e estes deixaram claro que queriam lá estar."
No outro lado do Atlântico, o Le Mans Intercontinental Cup tem sido alvo de criticas, e muitos vêem este novo campeonato como uma ameaça ao American Le Mans Series, que ano após anos tem vindo a observar a diminuição drástica de uma pelotão que outrora esteve recheado de grandes pilotos e de variadíssimas equipas. Scott Atherton, CEO do ALMS, deixou claro o seu apoio a esta nova competição, deixando no entanto um pequeno aviso: "O ALMS apoia esta Taça. No entanto, temos uma pequena questão a salvaguardar: não queremos que a Le Mans Intercontinental Cup se torne cada vez mais uma atractiva alternativa a um envolvimento total no ALMS."
"Estou certo que o ACO partilha a nossa opinião sobre os envolvimentos para toda a temporada no LMS. Todos concordamos que um bem sucedida LMIC à custa da saúde dessas series, não será um sucesso; é apenas transferir de uns para outros. Podemos continuar com o envolvimento total de equipas e construtores enquanto possibilitarmos esta oportunidade global. Tudo se resume a uma calendarização e entendimento com os construtores."
A preocupação de Scott Atherton é, para além de obviamente legítima, também bastante fundamentada em indícios claros por parte dos construtores. Mas há que lembrar que o ALMS pouco ou nada se importou com a saúde do LMS e com o envolvimento oficial dos grandes construtores neste campeonato até o ACO aparecer com esta competição 'mundial'. A verdade é que é altamente provável que os grandes construtores se envolvam apenas no LMIC, que no futuro poderá ter 6 provas, apoiando, ou não, equipas privadas para estas os representarem no LMS ou ALMS.
Considerando as tão faladas 6 provas em 2011, se Peugeot, Audi e Aston Martin (referindo apenas a LMP1) se inscreverem para toda a temporada no LMIC e numa outra das series, poderão vir a realizar 11 provas, no caso LMS + LMIC, ou 15, numa situação ALMS + LMIC, o que é altamente improvável. Os custos financeiros de um envolvimento deste calibre andariam muito perto dos praticados na F1, e o endurance ainda está longe de justificar orçamentos que poderiam ascender facilmente aos 100 milhões de dólares anuais.
As inscrições para a primeira edição do Le Mans Intercontinental Cup serão abertas a 30 de Março e terminarão a 31 de Maio. Para os títulos de pilotos, equipas e construtores serão apenas elegíveis os que se inscreverem em todas as provas do LMIC e ainda em outras cinco sobre a chancela Le Mans, excepto as 24 Horas de Le Mans, o que se traduz, na prática, na inscrição nas três provas do LMIC, que por si próprias já fazem parte do LMS, ALMS e Asian LMS, e em mais duas provas em uma ou mais dessas series.
Relativamente ao Asian Le Mans Series, que em 2009 arrancou com uma jornada dupla de 500km no Japão, não haverá confirmação de nada por parte do ACO antes do fim de Abril, mas nos bastidores fala-se que a competição poderá voltar a limitar-se a uma jornada dupla, desta vez na China.
Quanto à pergunta para a qual todos anseiam por uma resposta - se farão ou não as 24 Horas de Le Mans parte da futura World Series - a resposta foi lacónica quanto baste: "Boa questão..."
Fonte: Press Release do ACO e Planetlemans.com
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