É inegavel a paixão pelas 24 horas de Le Mans. Visto que transmitimos ela ao vivo durante 24 horas da prova e vamos repetir a dose em 2010. MAs estava visitando os blogs de amigos quando me deparo com este texto e fato das 24 horas de Le Mans de 1966. Onde as maquinas eram mais brutas e menos eletronicas. Eram carros de competição verdadeiros.
Acompanhe o texto retirado do Saloma do Blog sobre a prova.
"LE MANS - 1966, HOUVE EMPATE?
Galera, mais um presentinho início de ano pra ôces. Com maestria e conteúdo, Toni Seabra faz um relato da prova que provocou discussão e sempre é lembrado pelos "puristas" de plantão! Se deliciem galera...
LE MANS 1966 – Houve ou não houve um “empate”?
Os Ford GT40 MkIIA se aproximam juntos da linha de chegada...
Muito se comenta sobre a chegada dos 3 Ford’s GT40 MkIIA juntos, nas 24 horas de Le Mans de 1996. Por muito tempo alguns jornalistas fomentaram a versão de que dois dos carros teriam cruzado juntos a linha de chegada (é preciso lembrar que naquela época não havia cronometragem eletrônica!), o que teria levado a Ford a solicitar a direção de prova que fosse declarada uma vitoria dupla, ocorrência que seria única em toda a historia da corrida. E que o ACO (Automobile Club de L’ Ouest), organizador da corrida, teria decidido dar a vitoria ao carro n° 2 porque este teria largado cerca de 20 metros mais para trás no grid - largada parada do tipo Le Mans - ou seja, teria percorrido uma maior distancia durante as 24 horas da competição.
A foto mostra o carro n°1 (Miles/Hulme) cerca de 20 metros a frente do n°2 (Amon/McLaren), no grid de largada
Sabemos que depois de “débâcle” de 1965, a Ford investiu mais pesado ainda para vencer Le Mans em 1966. Os GT40 originais foram extensivamente modificados, em busca de melhor performance, e receberam o enorme motor de 7 litros, com uma cavalaria improvável para a época (485 HP). Os resultados positivos já ficaram demonstrados em Daytona e Sebring onde a Ford obteve 2 vitorias e todos os demais lugares no pódio, tendo Ken Miles como piloto do carros vencedores de ambas as provas. Era uma prova de força, apesar da ausência da Ferrari em Daytona, e da inscrição de apenas uma P3 em Sebring.
Mas a grande aspiração do gigante americano era mesmo vencer Le Mans, e a Ford levou para La Sarthe uma “armada” de 8 GT40 MkIIA, além de alguns GT40 de antiga versão, inscritos por equipes particulares. Guiando os MkIIA estavam alguns renomados pilotos de F1, tais como Denny Hulme, Dan Gurney, Chris Amon, Bruce McLaren e Graham Hill, além dos não menos conhecidos e competentes Mark Donahue, Mário Andretti e Ken Miles, entre outros. Em contra partida, a Ferrari só conseguiu aprontar 3 unidades da novíssima 330 P3, em virtude das greves de metalúrgicos na Itália, sendo que já era patente que as antigas 365 P2/3 não ofereciam real oposição, talvez nem mesmo aos Ford GT 40 mais antigos.
Os treinos provaram a velocidade dos novos GT40 MkIIA, que ficaram com os 4 primeiros lugares no grid, Gurney/Grant na pole com 3.:30.6, Miles/Hulme em segundo com 3:31.7, Whitmore/Gardner em 3° com 3:32.2, Amon/McLaren em 4° com 3:32.6 e a primeira 330 P3 de Rodriguez/Ginther em 5°, com o excelente tempo de 3:33 cravados. Depois mais um Ford, de Graham Hill/Muir, e as P3 de Parkes/Scarfiotti e Bandini/Guichet, sendo estes os últimos abaixo de 3:35.0. Entre 3:35 e 3:37 estavam o Chaparral 2D de P. Hill/Bonnier e os três outros Ford MkIIA de Bucknum/Hutcherson, Hawkins/Donahue e Andretti/L.Bianchi. Os demais vinham com tempos acima de 3:40 min.
As Ferrari P3, apesar de seus V12 de 4 litros serem bem menos potentes (420 HP) que os V8 de 7 litros americanos, estavam muito rápidas, e deveriam dar trabalho aos Fords. Mas eram apenas 3 contra os 8 Ford’s, o que a transformava numa espécie de Davi enfrentado um Golias. O ponto fraco dos Ford’s era o sistema de freios, dado que o carro era muito pesado para sua velocidade, exigindo trocas dos discos durante a longa prova. Um sistema de trocas rápidas foi desenvolvido para superar esta adversidade. As Ferraris 330 P3 tinham na transmissão e no sistema de refrigeração do motor o seu calcanhar de Aquiles.
Ken Miles, piloto, engenheiro e peça importantíssima no desenvolvimento do carro, buscava em Le Mans a “tríplice coroa”, ou seja, a vitória nas 3 mais importantes provas de “endurance” da temporada, dado que já havia vencido em Daytona e Sebring. Durante as primeiras horas de prova os GT 40 de Gurney e Miles impunham um ritmo muito rápido, porem eram acompanhados a curta distancia por Rodriguez e por Parkes, em duas das P3. O carro de Amon/McLaren rodava mais lento, numa estratégia de se conservar para a vitoria, sendo “marcado” pela Ferrari de Bandini e do “gentleman driver” Jean Guichet. Por volta de 4 horas de prova, Gurney e Miles seguiam numa disputa feroz, ambos virando em tempos iguais aos obtidos nos treinos. Mas, devido ao handicap das paradas para troca de discos e pastilhas de freio, com 6 horas de prova as duas Ferrari 330 P3 alcançam a liderança. Rodriguez continua voando baixo com a spyder, transfigurando-se no favorito do publico.
A Ferrari 330 P3 spyder de Rodriguez-Ginther
Nesta altura, começava o aparente calvário de parte da armada da Ford: um deles já havia abandonado a prova e dois estavam muito atrasados, dando a impressão que o acaso começava a equilibrar as chances de vitoria entre Ford e Ferrari. Porem, a partir da 7° hora as esperanças da Ferrari começam a se esvair, talvez por conta do ritmo infernal da prova, com as P3 apresentando problemas de transmissão e de superaquecimento e caindo na tabua de classificação. N 9° hora a dupla Scarfiotti/Parkes se envolve num acidente, e na 11° hora é a vez de Rodriguez abandonar com problemas na caixa. A terceira P3, lutando contra o superaquecimento, vai resistir somente até a 17° hora, e também abandona. Um pouco adiante, é a vez do Ford de Gurney abandonar, com a queima da junta do cabeçote.
Com 20 horas só restam 3 Ford’s GT 40 MkIIA na prova, viajando em velocidade de cruzeiro, a caminho da vitoria. Miles e Amon passam a andar juntos, com Bucknum vindo em 3°, algumas voltas atrasado. Os carros giram agora cerca de 30 segundos por volta mais lentos do que na classificação, já que ninguém mais pode lhes oferecer combate.
A Ford precisava definir qual dos dois carros vai vencer a corrida. Miles, apesar de ter sido peça chave no desenvolvimento dos carros, estava passado por sérios problemas de relacionamento com a Ford, em função de seu gênio turbulento. Mas tinha liderado grande parte da corrida, na fase inicial, tinha imposto um ritmo alucinante, e merecia vencer. Foi ai que dentro da Ford teria ganho corpo o plano de fazer os carros chegarem emparelhados, dividindo o primeiro lugar, de onde provavelmente se originou a lenda. Porem, a foto da chegada, abaixo, mostra de forma inequívoca, que a estória não passa mesmo de lenda, deixando claro que o Ford n° 2 chegou nitidamente a frente do carro n° 1.
A bandeirada de chegada de Le Mans 1966
Entretanto, como toda lenda tem seu fundo de verdade, o que se comenta é que a Ford chegou e ventilar a idéia junto ao ACO, que finalmente teria usado o argumento da distancia total percorrida para negar a pretensão dos americanos. Fato é que muitos asseguram ter visto Ken Miles e Dennis Hulme chorando, depois da chegada. Afinal, eles reduziram o “train” de corrida por instrução dos boxes, permitindo a aproximação de Amon e McLaren, de certa forma abrindo mão de uma vitoria que seria certa, dado que o carro deles agüentou o “tranco” do fortíssimo ritmo mantido por mais de metade da prova."
Galera, mais um presentinho início de ano pra ôces. Com maestria e conteúdo, Toni Seabra faz um relato da prova que provocou discussão e sempre é lembrado pelos "puristas" de plantão! Se deliciem galera...
LE MANS 1966 – Houve ou não houve um “empate”?
Os Ford GT40 MkIIA se aproximam juntos da linha de chegada...
Muito se comenta sobre a chegada dos 3 Ford’s GT40 MkIIA juntos, nas 24 horas de Le Mans de 1996. Por muito tempo alguns jornalistas fomentaram a versão de que dois dos carros teriam cruzado juntos a linha de chegada (é preciso lembrar que naquela época não havia cronometragem eletrônica!), o que teria levado a Ford a solicitar a direção de prova que fosse declarada uma vitoria dupla, ocorrência que seria única em toda a historia da corrida. E que o ACO (Automobile Club de L’ Ouest), organizador da corrida, teria decidido dar a vitoria ao carro n° 2 porque este teria largado cerca de 20 metros mais para trás no grid - largada parada do tipo Le Mans - ou seja, teria percorrido uma maior distancia durante as 24 horas da competição.
A foto mostra o carro n°1 (Miles/Hulme) cerca de 20 metros a frente do n°2 (Amon/McLaren), no grid de largada
Sabemos que depois de “débâcle” de 1965, a Ford investiu mais pesado ainda para vencer Le Mans em 1966. Os GT40 originais foram extensivamente modificados, em busca de melhor performance, e receberam o enorme motor de 7 litros, com uma cavalaria improvável para a época (485 HP). Os resultados positivos já ficaram demonstrados em Daytona e Sebring onde a Ford obteve 2 vitorias e todos os demais lugares no pódio, tendo Ken Miles como piloto do carros vencedores de ambas as provas. Era uma prova de força, apesar da ausência da Ferrari em Daytona, e da inscrição de apenas uma P3 em Sebring.
Mas a grande aspiração do gigante americano era mesmo vencer Le Mans, e a Ford levou para La Sarthe uma “armada” de 8 GT40 MkIIA, além de alguns GT40 de antiga versão, inscritos por equipes particulares. Guiando os MkIIA estavam alguns renomados pilotos de F1, tais como Denny Hulme, Dan Gurney, Chris Amon, Bruce McLaren e Graham Hill, além dos não menos conhecidos e competentes Mark Donahue, Mário Andretti e Ken Miles, entre outros. Em contra partida, a Ferrari só conseguiu aprontar 3 unidades da novíssima 330 P3, em virtude das greves de metalúrgicos na Itália, sendo que já era patente que as antigas 365 P2/3 não ofereciam real oposição, talvez nem mesmo aos Ford GT 40 mais antigos.
Os treinos provaram a velocidade dos novos GT40 MkIIA, que ficaram com os 4 primeiros lugares no grid, Gurney/Grant na pole com 3.:30.6, Miles/Hulme em segundo com 3:31.7, Whitmore/Gardner em 3° com 3:32.2, Amon/McLaren em 4° com 3:32.6 e a primeira 330 P3 de Rodriguez/Ginther em 5°, com o excelente tempo de 3:33 cravados. Depois mais um Ford, de Graham Hill/Muir, e as P3 de Parkes/Scarfiotti e Bandini/Guichet, sendo estes os últimos abaixo de 3:35.0. Entre 3:35 e 3:37 estavam o Chaparral 2D de P. Hill/Bonnier e os três outros Ford MkIIA de Bucknum/Hutcherson, Hawkins/Donahue e Andretti/L.Bianchi. Os demais vinham com tempos acima de 3:40 min.
As Ferrari P3, apesar de seus V12 de 4 litros serem bem menos potentes (420 HP) que os V8 de 7 litros americanos, estavam muito rápidas, e deveriam dar trabalho aos Fords. Mas eram apenas 3 contra os 8 Ford’s, o que a transformava numa espécie de Davi enfrentado um Golias. O ponto fraco dos Ford’s era o sistema de freios, dado que o carro era muito pesado para sua velocidade, exigindo trocas dos discos durante a longa prova. Um sistema de trocas rápidas foi desenvolvido para superar esta adversidade. As Ferraris 330 P3 tinham na transmissão e no sistema de refrigeração do motor o seu calcanhar de Aquiles.
Ken Miles, piloto, engenheiro e peça importantíssima no desenvolvimento do carro, buscava em Le Mans a “tríplice coroa”, ou seja, a vitória nas 3 mais importantes provas de “endurance” da temporada, dado que já havia vencido em Daytona e Sebring. Durante as primeiras horas de prova os GT 40 de Gurney e Miles impunham um ritmo muito rápido, porem eram acompanhados a curta distancia por Rodriguez e por Parkes, em duas das P3. O carro de Amon/McLaren rodava mais lento, numa estratégia de se conservar para a vitoria, sendo “marcado” pela Ferrari de Bandini e do “gentleman driver” Jean Guichet. Por volta de 4 horas de prova, Gurney e Miles seguiam numa disputa feroz, ambos virando em tempos iguais aos obtidos nos treinos. Mas, devido ao handicap das paradas para troca de discos e pastilhas de freio, com 6 horas de prova as duas Ferrari 330 P3 alcançam a liderança. Rodriguez continua voando baixo com a spyder, transfigurando-se no favorito do publico.
A Ferrari 330 P3 spyder de Rodriguez-Ginther
Nesta altura, começava o aparente calvário de parte da armada da Ford: um deles já havia abandonado a prova e dois estavam muito atrasados, dando a impressão que o acaso começava a equilibrar as chances de vitoria entre Ford e Ferrari. Porem, a partir da 7° hora as esperanças da Ferrari começam a se esvair, talvez por conta do ritmo infernal da prova, com as P3 apresentando problemas de transmissão e de superaquecimento e caindo na tabua de classificação. N 9° hora a dupla Scarfiotti/Parkes se envolve num acidente, e na 11° hora é a vez de Rodriguez abandonar com problemas na caixa. A terceira P3, lutando contra o superaquecimento, vai resistir somente até a 17° hora, e também abandona. Um pouco adiante, é a vez do Ford de Gurney abandonar, com a queima da junta do cabeçote.
Com 20 horas só restam 3 Ford’s GT 40 MkIIA na prova, viajando em velocidade de cruzeiro, a caminho da vitoria. Miles e Amon passam a andar juntos, com Bucknum vindo em 3°, algumas voltas atrasado. Os carros giram agora cerca de 30 segundos por volta mais lentos do que na classificação, já que ninguém mais pode lhes oferecer combate.
A Ford precisava definir qual dos dois carros vai vencer a corrida. Miles, apesar de ter sido peça chave no desenvolvimento dos carros, estava passado por sérios problemas de relacionamento com a Ford, em função de seu gênio turbulento. Mas tinha liderado grande parte da corrida, na fase inicial, tinha imposto um ritmo alucinante, e merecia vencer. Foi ai que dentro da Ford teria ganho corpo o plano de fazer os carros chegarem emparelhados, dividindo o primeiro lugar, de onde provavelmente se originou a lenda. Porem, a foto da chegada, abaixo, mostra de forma inequívoca, que a estória não passa mesmo de lenda, deixando claro que o Ford n° 2 chegou nitidamente a frente do carro n° 1.
A bandeirada de chegada de Le Mans 1966
Entretanto, como toda lenda tem seu fundo de verdade, o que se comenta é que a Ford chegou e ventilar a idéia junto ao ACO, que finalmente teria usado o argumento da distancia total percorrida para negar a pretensão dos americanos. Fato é que muitos asseguram ter visto Ken Miles e Dennis Hulme chorando, depois da chegada. Afinal, eles reduziram o “train” de corrida por instrução dos boxes, permitindo a aproximação de Amon e McLaren, de certa forma abrindo mão de uma vitoria que seria certa, dado que o carro deles agüentou o “tranco” do fortíssimo ritmo mantido por mais de metade da prova."
Texto e fonte: http://www.interney.net/blogs/saloma/
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