terça-feira, 30 de agosto de 2011

O COMBATE FORD VERSUS FERRARI (10)


O fim de uma era.

Até 1964 a Ferrari havia vencido em seguida cinco vezes em Le Mans. E após os fracassos da temporada anterior, a alta direção da Ford americana jogava a culpa sobre os ombros do pessoal da Ford Advanced Vehicles inglesa (leia-se John Wyer) e os seus métodos tradicionais e pragmáticos, contra a aposta da empresa de Dearborn na alta tecnologia dos computadoes e dos túneis de vento.

O processo de fritura de John Wyer se iniciara no final da temporada anterior na Nassau Speed Week onde a Ford aproximou-se mais de Carrol Shelby, cuja moral andava elevada desde a vitória dos Shelby Cobra em Le Mans entre os carros GT. Após a desastrosa temporada de 1964, os americanos haviam pressentido a possibilidade de vitórias, mas necessitavam de alguém mais experiente no comando das operações.

Carrol Shelby aceitou com gosto o desafio. A revanche sobre Enzo Ferrari e os carros vermelhinhos de Maranello parecia iminente. Mantendo basicamente as modificações realizadas por John Wyer, Shelby concentrou-se mais no melhoramento mecânico. Os motores foram mudados para os bem testados e confiáveis Ford 289 de 4.7 litros e 380 HP largamente usados nos Shelby Cobra e a caixa de 5 marchas alemã marca ZF passara por uma série de reforços e modificações em vista do fracasso das antigas Colotti.

Mas enganava-se quem pensava que a Ferrari estava dormindo sobre os louros da vitória. Desde o final da temporada anterior, os italianos trabalhavam nos novos protótipos designados 330P2 e 275P2 com novos motores V12 repotenciados e uma novíssima Ferrari 365P2 de 4.4 litros.

O primeiro confronto da temporada de 1965 deu-se no final de fevereiro nos 2000 Km de Daytona, onde a Ferrari apresentou somente um carro, a 330P2 inscrita semi oficialmente pelo Team NART para a dupla John Surtees/Pedro Rodriguez. Já a Ford compareceu com dois Ford GT-40 para as duplas Ken Miles/LLoyd Ruby e Bob Bondurant/Richie Ginther, inscritos sob as cores da Shelby American Inc. que levou também nada menos que 4 Shelby Daytona Coupé.

Mas com o abandono da única Ferrari 330 P2 (Surtees/Rodriguez) que podia fazer frente aos GT-40 na volta 116 por quebra do eixo, os carros da Ford não tiveram dificuldades de ocupar as quatro primeiras posições em Daytona, com Ken Miles/Lloyd Ruby em primeiro, Jo Schlesser/Harold keck/Bob Johnson (Shelby Cobra Daytona) em segundo, o outro GT-40 de Bob hBondurante/Richie Ginther em terceiro e outro Shelby Cobra (Rick Mutter/John Timanus) na quarta posição. A melhor Ferrari classificada foi uma antiga GTO do trio Bob Hurt/Peter Clark/Charlie Hayes em sétimo lugar. Portanto, primeiro round, um a zero para a Ford.

A segunda etapa se deu um mês mais tarde nas tradicionais 12 Horas de Sebring, onde Carrol Shelby apresentou uma versão do GT-40 equipado com motor de 5.3 litros para Ken Miles e Bruce McLaren e Richie Ginther/Phil Hill. A Ferrari não se inscreveu oficialmente em Sebring, ficando a marca para ser defendida pelas equipes privadas. Ao final, a Ford colheu uma dupla derrota. Além de chegar em segundo lugar com Ken Miles/Bruce Mclaren ainda perdeu a corrida para o Chaparral 2A de Jim Hall/Hap Sharp, equipado com o motor da arqui rival Chevrolet. O segundo GT-40 abandonara ainda na volta 37 por problemas ma suspensão traseira.

O segundo encontro entre os desafiantes se deu nos Mil Km de Monza, em abril de 1965. Correndo em casa, as Ferrari 275P2 de Mike Parkes/Jean Guichet e a 330P2 de John Surtees/Ludovico Scarfiotti não deram a menor chance ao GT-40 de Ken Miles/Bruce Mclaren que tiveram que se contentar om a terceira posição, quatro voltas atrás dos líderes. Na Targa Florio, o vexame dos americanos foi maior; um GT-40 na versão roadster (teto aberto) inscrito pela renascida FVA-Ford Advanced Vehicles para bob Bondurant/John Whitmore abandonou por acidente na oitava volta. a corrida foi vencida pela Ferrari 275P2 de Nino Vaccarella/Lorenzo Bandini.

O terceiro encontro teve lugar nos Mil Km de Nürburgring, onde as Ferrari 330P2 e 275P2, respectivamente de John Surtees/Ludovico Scarfiotti e Mike Parkes/Jean Guichet deram um verdadeiro baile nos americanos, tendo o melhor GT-40 se classificado apenas em oitavo, o do trio Chris Amon/Bruce Mclaren/Phil Hill. e após as acachapantes derrotas nas etapas anteriores, carrol Shelby achou por bem se recolher e preparar seus carros para Le Mans.

Carrol Shelby e o Ford MkII de 7 litros, Le Mans 1965.

Para Le mans a Ford guardava uma surpresa, a versão denominada Mark I equipada com um motor de 7 litros e que seriam conduzidos por Chris Amon/Phil Hill e Bruce McLaren/Ken Miles. E para garantir o resultado, a fábrica americana utilizou da mesam estratégia da rival Ferrari ao inscrever vários Ford GT-40 cedidos para as equipes FVA (Innes Ireland/John Whitmore), Ford France (com o roadster para Maurice Trintignant/Guy Ligier), Scuderia Filipinetti (Ronnie Bucknum/Herbert Müller) e Rob Walker Racing (Bob Bondurant/Umberto Maglioli).

Phil Hill ao volante do Ford MkII 7 litros.

Numa edição das 24 Horas de Le Mans particularmente dificil para carros e pilotos, 51 carros largaram e somente 14 chegaram ao final. Entre os desistentes estavam os principais candidatos á vitória: as Ferrari 275 e 330P2 oficiais e os protótipos Mark II e GT-40 da Ford não chegaram ao final, vitimados por problemas mecânicos.

A vitória caiu no colo do trio Jochen Rindt/Masten Gregory/Ed Hugus numa Ferrari 250LM do Team NART.

A dura lição aprendida na pista francesa mexeu com os brios dos americanos que não retornaram mais às pistas em 1965. Recolheram-se às oficinas e às prancehtas dos projetistas. Ainda apostavam numa vitória maiúscula em Le Mans e sobre os italianos e a resposta parecia residir em altas cilinradas. Para a Ferrari se aproximava o fim de uma era.

Mas isso teria que ficar para a temporada de 1966.

(fotos reprodução)

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