por Vitor Ribeiro
No âmbito do trabalho do acompanhamento que fizemos à participação da equipa portuguesa Quifel ASM Team nos 1000 Km do Algarve, prova pontuável para o campeonato Le Mans Series, não poderíamos deixar de entrevistar o homem que está ao leme desta aventura, António Simões, um ex-piloto com provas dados que cedo decidiu enveredar pela acção do outro lado das pistas.
Nascido em 1961, António Simões iniciou-se no karting no início dos anos 80, paralelamente à frequência do curso de engenharia mecânica. Vice-campeão nacional de Iniciados, ao volante de um R5 GT Turbo, em 1984, no seu ano de estreia nos automóveis, Simões saltaria para a Formula Ford - que entretanto regressara ao nosso país - no ano seguinte. Campeão logo no ano de estreia, Simões de imediato tenta iniciar uma carreira internacional mudando-se de armas e bagagens para o principal centro das competições automobilísticas, Inglaterra, onde iria disputar, com bons resultados, o mais competitivo campeonato de Formula Ford do mundo, durante as duas épocas seguintes. Entre ‘88 e ‘90, ainda tentou a sua sorte na Formula 3 inglesa, sem grande sucesso, dando por encerrada a carreira em 1990, com um 4º lugar na 10ª prova do campeonato inglês de Formula 3000, disputada em Donigton, numa corrida ganha por Pedro Matos Chaves (que se sagraria campeão nesse ano).
Em 1995 regressa às pistas, participando ao longo dos anos seguintes em vários troféus de velocidade nacionais, sendo nesse âmbito - e para garantir a assistência aos seus carros - que cria, em 1996, a ASM. Actualmente, e para além da participação no campeonato LMS, onde lidera a categoria LMP2, a ASM inscreve um Ferrari 430 GT2 (entregue a Ricardo Bravo e Lourenço Beirão da Veiga) no Campeonato de Espanha de GT, onde também lidera a tabela geral.
Le Mans Portugal (LMP): Como é que nasceu o projecto LMS da Quifel ASM Team?
António Simões (AS): Começou no Natal de 2005. O Miguel [Pais do Amaral] já era meu piloto de GT’s, já estávamos a fazer os GT’s em Espanha com ele, quando aparece à venda um Lola, da Chamberlain, que tinha entrada para Le Mans. Como o Miguel gostava muito de fazer Le Mans, achou que era uma boa oportunidade, pois tínhamos a entrada garantida desde que corrêssemos sob o nome Chamberlain. Começamos o campeonato em Spa, sob o nome Chamberlain e ganhamos a corrida - uma vitória logo de entrada! - e depois fizemos Le Mans, que correu pessimamente, muito mal mesmo (nós não sabíamos para o que íamos, de facto). Mudamos então de nome para Quifel ASM, e fizemos o que restava do campeonato, com mais alguns bons resultados, que só não ganhamos por termos de deitar fora esse resultado de Spa, e acabámos em beleza, em Jarama, com um segundo lugar à geral.
LMP: A ASM teve um início de carreira no LMS muito positivo…
AS: Nessa altura o campeonato era muito diferente do que é agora. Nessa altura bastava terminar a prova que tínhamos um pódio praticamente garantido - os carros eram muito fracos, muito mal mantidos. Entretanto as equipas melhoraram muito, os carros melhoraram muito e o campeonato está muito mais competitivo, já é muito mais difícil. A fasquia tem subido de ano para ano. Veja o ano passado, com o carro velho, o que fizemos - muito mais bem preparados, muitos mais conhecedores do carro, muito mais conhecedores das pistas, os pilotos muito melhores (entretanto o Miguel evoluiu muito neste últimos três anos, como o Oliver também) - e mesmo assim não conseguimos melhor que um terceiro lugar em Silverstone.
LMP: Depois o Lola B05/40 perdeu competitividade e as performances da equipa ressentiram-se. Quais são os objectivos da equipa a médio prazo?
AS: Nós andamos nisto para estar sempre a melhorar. A nossa vontade é essa, de fazer sempre melhor, e é isso que temos vindo a fazer. Eu e o Miguel já nos conhecemos bem, ele está contente, as nossas projecções têm vindo a ser alcançadas e o nosso objectivo é continuar a fazer mais e melhor, sermos mais competitivos. Os regulamentos vão-se alterar, em 2011, e pode ser que nós também tenhamos de mudar de categoria… ainda não sabemos bem. Apesar de os resultados talvez não o mostrarem - à excepção daquele primeiro ano - nós temos vindo a tornarmo-nos mais competitivos, como se tem visto, de novo, na actual temporada, em que - à excepção de Le Mans, onde, de facto, os Porsche eram bem mais competitivos - voltamos a lutar pelas vitórias.
LMP: Relativamente aos Porsche RS Spyder, houve quem, nas conversas que temos mantido com os elementos da sua equipa técnica, afirmasse que se tratavam de autênticos LMP1 devido à sua enorme competitividade…
AS: O Porsche é de facto um LMP2, mas a Porsche investiu muito naquele projecto. Tanto, que é um projecto tão caro que neste momento nem há ninguém a correr com esse carro no LMS, porque é uma carro muito caro de se manter - e repare que este ano os LMP2 são obrigados a fazer duas corridas com o mesmo motor, que é uma coisa que eu não sei se a Porsche conseguiria fazer. O que vem contra o espírito da categoria LMP2, que é uma categoria de equipas ‘amadoras’, privadas, e a Porsche apareceu com um carro que não está ao alcance deste tipo de equipas. Nós próprios, aliás, chegámos a negociar a possibilidade de adquirir um Porsche mas vimos logo que os ‘budgets’ não eram comportáveis. O Porsche, de facto, mostrou-se… enfim, enquanto que no Estoril, em Barcelona, em Paul Ricard, nos batemos ao mesmo nível com eles, já em Le Mans… O Porsche tem uma aerodinâmica muito eficaz que lhe permite ser muito rápido em recta e fazer mais voltas que nós com o mesmo combustível, o que é uma vantagem brutal.
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