O convite para fazer esta corrida surgiu apenas cerca de 2 semanas antes da corrida o que me deixava um pouco na expectativa. De qualquer maneira treinei e preparei-me o melhor que pude mesmo antes dessa “bendita” confirmação, como se já o soubesse há muito tempo - mas também é verdade que com as corridas nos Estados Unidos o meu pensamento nem sempre estava em Le Mans, o que me permitia aliviar um pouco essa expectativa.
Foi uma honra ter tido a oportunidade de fazer Le Mans com o Henri. Ele mostrou que ainda é uma pessoa muito competitiva e nenhum pormenor lhe passa ao lado, estando sempre atento a tudo o que se passa.
Infelizmente, as coisas não começaram nada bem… Logo no primeiro dia de treinos, e numa altura em que chovia bastante, ao tentar evitar um toque num GT à entrada das curvas Porsche, galguei o corrector - que com a chuva não perdoa - e dei um toque nos rails. O carro atravessou e perdi o controlo. A pancada foi grande e pensei que já não saía dali. Mas para minha surpresa consegui colocar o Pescarolo a funcionar e sair dali. Verifiquei que tudo estava até bastante bem!
A primeira pessoa com quem fui ter foi o Henri, claro, e um pouco para surpresa minha ele estava muito tranquilo tendo sido o primeiro a dizer que não era nada, que estava confiante em mim e que não me preocupasse pois o carro não tinha nada de especial!
Na quinta-feira, dia de cronometrados, tínhamos um plano de trabalho para encontrarmos o melhor setup possível para a corrida e realizar as voltas de qualificação. O Tinseau - que tem mais experiência da equipa e do carro - ficou encarregado dessa tarefa e fez um bom trabalho, apesar de ele sentir que poderia ter feito um pouco melhor, mas nem sempre é fácil encontrar voltas com pouco tráfego quando se tenta qualificar. De qualquer maneira os cronometrados não são a parte mais importante numa corrida de 24H.
Sexta feira é o dia da parada no centro de Le Mans, é um momento em que os fãs podem estar perto dos pilotos e todos os anos fico impressionado com a quantidade de pessoas que estão nesse circuito a pedir autógrafos e a gritar “la casquette, la casquette” (chapéus). Claro que ninguém tem material suficiente para dar a toda a gente, mas tentamos sempre dar pelo menos às crianças.
O dia das 24H começa logo bem cedo, com o warm up. Embora fosse o Tinseau a fazer o warm up eu estava lá, claro, para acompanhar. Quem disse que a corrida são só 24H??
A equipa decidiu que a ordem seria Tinseau/Jouanny/Barbosa. Iríamos fazer 3 turnos (cerca de 2H30) seguidos para começar e assim tentar aproveitar os pneus ao máximo e evitar a agora tão demorada troca de pneus. Comecei a fazer os meus cálculos e concluí que iria entrar no Pescarolo mesmo ao final do dia e início da noite, talvez um dos momentos mais críticos, pois o sol está muito baixo e a visibilidade nem sempre é fácil, pois em alguns pontos quase nos cega, e quando se rola a mais de 300 km/h a concentração tem de ser grande. Para mim, no entanto, tudo se passou muito bem: fiz bons turnos e recuperávamos já bem, tendo andado entre a 5ª e a 7ª posições.
Gosto muito de andar à noite em Le Mans, é uma sensação única, acho até mesmo que a concentração acaba por ser maior pois com menos luzes temos menos visibilidade de muitas coisas que nos podem distrair durante o dia…Claro que tem os seus senãos: quando às 4 da manhã sentimos o cheiro a churrasco, e para quem passou uma semana quase só a pastas e frango grelhado, até dá água na boca…
Acho que estava bem preparado para esta corrida, pois no meu 2º turno da noite fiz quase 4 horas seguidas! Também ajuda, e muito, os duches que tomava quando saía do carro e as massagens que ajudam a recuperar ainda mais depressa, dado que as horas de sono são sempre poucas.
A noite entretanto passara, tinha até então feito o melhor tempo do nosso carro e percebia que a equipa estava satisfeita com o meu desempenho. No entanto, perdemos 3 voltas extra com uma mudança dos discos de travão, que deveriam durar toda a corrida. Com isso perdemos o contacto com os nossos maiores concorrentes, a Oreca.
O dia já ia longo e tínhamos já perdido o contacto com a Oreca, sendo a desvantagem difícil de anular. De qualquer maneira, no meu último turno, ainda tive possibilidade de melhorar um pouco mais a melhor volta do Pescarolo nº16 mas de pouco adiantou - o Tinseau cortou a meta no 8º lugar final.
Apesar de não ser mau ficou um pouco aquém das minhas expectativas e também da equipa, pois penso que o 5º lugar era, pelo menos, o resultado que estaria dentro dos nossos objectivos. Mas as corridas de 24H são assim mesmo e há que contar com todos os imprevistos. Mesmo assim fico com a sensação de dever cumprido.
Toda a equipa me acolheu muitíssimo bem.
A crónica já vai longa mas é-me difícil fazer menos - numa corrida de 24H existem muitas histórias, algumas que ficaram por contar, mas não vos quero maçar mais.
Espero no próximo ano escrever outra crónica - era bom sinal!!!
Um abraço a todos os que tiveram a pachorra de me ler até ao fim.
Até à próxima!
Fotos: Motorsport.com e Le Mans Portugal
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